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Tempos primórdios do Casarão do Pau Preto

O Casarão Pau Preto é um dos mais queridos bens patrimoniais de Indaiatuba. Sede da Fundação Pró-Memória e onde está o Museu Casarão Pau Preto, a edificação foi construída entre 1810 e 1812, segundo Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, autor do texto mais completo sobre o tema “A Construção da História e a Legitimação da Memória no processo de preservação do Casarão Pau Preto”, publicado na Revista CPC da USP.
Inicialmente construído para ser a Casa Paroquial do padre responsável pela capelinha Nossa Senhora da Candelária, ele possui uma mistura de técnicas construtivas como taipa de mão, taipa de pilão e alvenaria inglesa, o que demonstra sucessivas ampliações até atingir o formato muito parecido com o que tem hoje. É provável que o padre ou outro representante do tenente Pedro Gonçalves Meira (que instituiu a capela no então Bairro de Cocaes, dando-lhe patrimônio), responsável pela então capelinha Nossa Senhora da Candelária, primeiro tenha construído esse casebre nesses dois anos e em seguida, no ano de 1813, tenha testemunhado a transformação em uma Capela Curada. O Curato, título oficial dado pela igreja católica a um determinado conglomerado com determinada importância econômica e populacional, foi um pré-requisito no Brasil entre os séculos 19 e 20, para que um local mais tarde se tornasse Freguesia, o que aconteceu com Indaiatuba em 9 de dezembro de 1830. Somente em 24 de março de 1859 Indaiatuba foi elevada à Vila, isto é, categoria de ‘Munícipio’.
O Curato fez com que o Casarão Pau Preto e a então capelinha Nossa Senhora da Candelária, cuja construção original não existe mais, fossem designados como os ‘marcos iniciais’ da expansão urbana de Indaiatuba, por alguns memorialistas (entre eles, Nilson Cardoso de Carvalho) e historiadores (entre eles Adriana Carvalho Koyama, filha de Nilson), que desconsideraram veementemente a capelinha eregida por certo José da Costa (que foi reduzido à lenda) e o povoado que teria existido no entorno do Ribeirão Votura e que teria sido extinto por causa de uma varíola.
A tese do povoado no Ribeirão Votura (atual Córrego do Barnabé) é defendida pelo memorialista Caio da Costa Sampaio e recuperada pela historiadora Silvane R. L. Alves em sua tese de mestrado para a Unicamp, onde ela destaca que “a cidade de Indaiatuba surgiu por volta de 1730-1740, em terras pertencentes à Vila de Itu. Inicialmente uma parada de tropeiros, que se dirigiam das regiões de Sorocaba e Itu para Campinas, tendo o povoado a denominação inicial de Votura, posteriormente substituído por Cocaes e finalmente Indaiatuba.

Consolidação
Na década de 1980, em virtude da especulação imobiliária que caracterizou o crescimento da cidade nos últimos 30 anos, o Casarão começou a ser demolido. Parte da tulha foi ao chão e no meio desse processo de desconstrução eclodiu um movimento popular em defesa do bem, liderado pelo jornalista Sérgio Squilanti. A mobilização gerou dois resultados bastante satisfatórios: o então prefeito, José Carlos Tonin, declarou a edificação como de utilidade pública, nascendo assim o que seria um caso raro: um museu advindo de uma reivindicação popular, quando a maior parte deles nasce de um acervo específico.
O Casarão passou por uma reforma e no dia 9 de dezembro de 1985 foi entregue à população. Em 2008, por iniciativa do então prefeito José Onério, ele foi tombado como Patrimônio Histórico do Município, consolidando-se assim, como patrimônio protegido. O maior argumento utilizado para o tombamento baseado nos estudos do memorialista Nilson Cardoso de Carvalho – de que o Casarão era um exemplar de tradição bandeirista – caiu por terra com o artigo citado de Nóbrega, atual superintendente da Fundação Pró-Memória.

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