Identidade Indaiatubana 10/03/2017

por Eliana Belo

Epidemias e Pandemias

Em 1974, eu estudava no Randolfo, na quarta série. Tinha três professoras: a D. Suzanna Ayres, D. Cinira e D. Inês de Barros Furlan, que me desculpem as outras, mas esta última minha preferida. E foi justamente ela, que explicava tão bem (esse é o principal parâmetro que eu tinha – e permaneci com ele até hoje – para avaliar uma boa educadora) que chegou na classe e disse, sem dar chances para perguntas:
– Depois de amanhã todo mundo vai tomar vacina aqui na escola.
A ‘gurizada’ entrou em pandemônio.
_ Vacina? Na escola? De injeção? Com agulha? Por quê? Por quê?
Choveu ‘porques’ de tudo quanto foi tipo, acompanhados ou não de choros contidos. O que me apavorou foi o silêncio dela. Silêncio que eu só entenderia muitos anos depois, quando já estava cursando História, e estudávamos a “Revolta da Vacina” que ocorreu no Rio de Janeiro e nossa discussão enveredou para o surto de meningite meningocócica que tivemos no Estado de São Paulo, naqueles idos anos em que o povão – totalmente desinformado sobre a epidemia – esperava ansiosamente a mesma performance que a ‘Seleção Canarinho’ havia tido em 1970.
Dona Inês não respondeu porque simplesmente não tinha as informações corretas para serem repassadas.
Mas chegando em casa, meu pesadelo – e acho que de todos – voltou. Desta vez era o silêncio da minha mãe, que dizia que alguém tinha falado para ela que a vacina era para prevenir a meningite, que eu sempre tomava vacina quietinha quando era bebê (soube então que minha habilidade em dissimular já era antiga) e que era para eu ir na fila e tomar a vacina quietinha. E pronto, acabou.

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