Documentário aborda a história da Estação Primeira de Mangueira

AE/Luiz Zanin Oricchio

Citando Machado de Assis, Ariano Suassuna dizia que o povo brasileiro era ótimo, enquanto o Brasil oficial não passava do nível burlesco e caricato. Como não dar razão ao genial autor de ‘Auto da Compadecida’ e ‘Romance da Pedra do Reino’ neste momento nacional, ainda mais quando comparamos a baixaria explícita na política, segurança, entre outros, de cada dia ao que de melhor existe no país, a cultura popular, tão bem expressa neste bonito e inesquecível filme, ‘Memória em Verde e Rosa’, de Pedro von Krüger?
Mais que documentário convencional sobre uma escola de samba, ‘Memória em Verde e Rosa’ prefere ser uma imersão na cultura da mitológica Estação Primeira de Mangueira. Tendo como guia o compositor Tantinho, o longa percorre as ruas do morro, conversa com diversos moradores e sambistas, toma o pulso de um cotidiano bastante diferente dos ‘elites’ e classe média brasileiras retratados em tantos lugares, até por seu espírito comunitário.
Uma das histórias engraçadas relatadas no filme é a de Dona Neuma, figura símbolo do matriarcado mangueirense (ao lado de Dona Zica, mulher de Cartola), que deixava seu telefone na janela para ser usado por quem precisasse. Outros tempos, sim. Mas também outra mentalidade, outros valores. Não é mesmo?
Uma cultura é feita de gestos como esses. É feita, em especial, pela arte que for capaz de gerar. Nesse sentido, a Verde e Rosa é privilegiada. Detém em sua galeria integrantes do panteão da música brasileira como Nelson Cavaquinho e Cartola. Além de personagens como o mestre-sala Delegado, pastoras, baianas como a veterana Suluca, compositores como Hélio Turco Seu Nego, o próprio Tantinho e um músico sofisticado como Paulão 7 Cordas.

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