Com Roberto Benigni como o velhinho Geppetto, longa mostra medos e sofrimentos como os do mundo real
Todas as pessoas conhecem a clássica história do boneco de madeira Pinóquio, que, após falar alguma mentira, vê o seu nariz crescer. porém, o que muitos não conhecem, é a história sombria por trás do boneco que virou humano.
Pela primeira vez em live-action, o filme é dirigido por Matteo Garrone, e chegou aos cinemas ontem (21).
O longa conta a história de Geppetto (Roberto Benigni), um marceneiro solitário que sonhava em ser pai e deseja que Pinóquio (Federico Ielapi), um boneco de madeira, que acabara de construir, ganhe vida.
Quando o seu pedido é realizado, ele observa a desobediência de Pinóquio, fazendo ele perder completamente o rumo de casa e o faz embarcar em uma misteriosa viagem repleta de seres fantásticos e muitos mistérios.
A história de Pinóquio sintetiza a aventura maior da paternidade: educar. A saga do indisciplinado menino de madeira esculpido pelo solitário Geppetto chegou aos cinemas do mundo em 1940 pelos estúdios Disney. Desde então, poucos indivíduos não conhecem a fábula italiana.
O filme de Matteo Garrone se distancia de qualquer adaptação dos contos clássicos realizados pela indústria cinematográfica contemporânea. Em termos de técnica e de construção narrativa, não é um filme “dos nossos tempos”. Tal premissa, no entanto, não é negativa.
Diante da abundância de remakes com roteiro supérfluo, exagero no CGI e efeitos especiais dispensáveis, Pinóquio (2021) toma a contramão. É um longa de escolhas simples, mas bem executadas.
O cenário, de modo geral, valoriza a paisagem italiana. As escolhas das cores frias e monótonas para o vilarejo e as cenas de interior contrastam com os personagens, que possuem existência fabulosa.
A fábula, por conceito, caracteriza o conto no qual os personagens são animais humanizados. Na escrita fabulosa, o objetivo é transmitir uma lição de moral. Garrone nada de braçada no gênero – o diretor também assina ‘O Conto dos Contos’ (2015), baseado na obra de Pentamerão.
Na narrativa, Pinóquio (Federico Ielapi) demonstra ingenuidade e bom coração, virtudes ofuscadas pelo seu anseio de conhecer o mundo. É assim que ele deixa Geppetto (Roberto Benigni) e parte para aventuras em um quase road movie. O personagem é ajudado e prejudicado pelos seres que encontra em seu percurso.
Assim como no realismo mágico, a existência dos personagens animalescos nunca é questionada. O espectador deve fazer um pacto de fantasia com o filme. A transformação dos atores nos seres fantásticos é deslumbrante. Em muito, maquiagem e figurino remetem ao Teatro de Rua tipicamente italiano e também ao cinema antigo.
O longa, que acerta esteticamente, em dado momento se arrasta. A cômica interpretação de Geppetto, vivido pelo vencedor do Oscar Roberto Benigni, é um ponto alto da trama. O ator já interpretou Pinóquio em um filme de 2002 e, aqui, esbanja naturalidade, embora tenha pouco tempo de cena.
Se pela técnica o filme se faz nostálgico, a narrativa é construída de modo mais lento e sombrio: Pinóquio é enforcado, queimado e afogado. A Itália de Garrone também parece sofrer com a pobreza e injustiça.
Em suma, Pinóquio retoma a história atemporal sem necessariamente adaptá-la para o mundo contemporâneo. Certamente, a obra tem seu diferencial e se sobressai no hall das inúmeras releituras dos filmes clássicos.