João Dória enfim “joga a toalha”

O tucano não resistiu às pressões internas e externas e desistiu da candidatura ao Planalto

João Dória, ex-governador de São Paulo, bastante consternado, anunciou nessa semana sua desistência à candidatura para Presidência da República no pleito agendado para outubro. Ele enfrentou nos últimos meses muita resistência interna no PSDB, o seu partido. Some-se a isso a pressão de partidos aliados que tentam construir uma terceira via na eleição (sem ele) e, também, o fraco desempenho dele em todas as pesquisas eleitorais divulgadas desde o ano passado.

“Para as eleições deste ano me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”, disse Dória em pronunciamento.

A decisão aconteceu uma semana antes da executiva do PSDB se reunir para definir como o partido se posicionará na disputa presidencial de outubro. Mesmo com a vitória legítima de João Dória nas Prévias, a tendência do partido é apoiar o nome da pré-candidata Simone Tebet (MDB) ao Planalto.

Ainda em seu pronunciamento, o ex-governador afirmou que o Brasil “precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos”. “Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade de cabeça erguida”, afirmou.

Presente no anúncio de Doria, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, defendeu uma candidatura única com MDB e Cidadania para as eleições de outubro.

“Nós temos um entendimento de diálogo com o Cidadania e com o MDB e nós vamos dar um passo à frente agora. A construção agora não é só definir o nome – e o nome de Simone é um nome posto nessa construção -, mas agora precisamos construir um projeto de compromisso de programa com o Brasil”, disse Araújo.

Aliado?
Momentos depois da desistência de Dória, Simone Tebet afirmou que espera contar com “sugestões” do ex-governador de São Paulo para o programa de governo dela.

“Doria nunca foi adversário. Sempre foi aliado. Sua contribuição com a luta pela vacina jamais será esquecida. Vamos conversar e receber suas sugestões para nosso programa de governo”, disse Simone.

Os trunfos que Doria acreditava que tinha em mãos para tentar a presidência da República, apesar de consistentes, em teoria, não foram suficientes para convencer seus aliados e a população dentro do jogo político.

Vacina: 91% da população paulista já recebeu ao menos duas doses do imunizante. Índice melhor que do Brasil. Economia: o PIB de São Paulo foi maior que p do país em 2021. Investimentos: sua gestão atraiu dinheiro da Europa, Ásia e Oriente Médio. Contas: ele transformou déficit de R$ 10 bilhões em superávit de R$ 42 bilhões. Mas, ao mesmo tempo, Dória enfrentou problemas na área de saúde, transporte, habitação e educação.

E os votos?
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, declarou, na última segunda-feira (23), em entrevista à CNN, que os votos do ex-governador João Doria à Presidência da República não devem ser remanejados para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas sim para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com base em resposta da pesquisa Ipespe. Lembrando que Doria apoiou a candidatura de Bolsonaro em 2018, visando também sua eleição em São Paulo. Ele criou o slogan “BolsoDória”.

“As pesquisas do Ipespe combinam com as pesquisas da Quaest, que vai um pouco mais para o Ciro, ai você tem um empate entre Lula e Bolsonaro. O resultado novo, que quando você pergunta não o segundo voto, mas em quem essas pessoas já votariam no segundo turno, o ex-presidente Lula tem quase o dobro de intenção dentro dos votos do Doria do que o atual presidente Jair Bolsonaro”, afirmou Meirelles.

“A base estatística é muito pequena, estamos falando do que sobrava 87 respostas da pergunta do Ipespe, é muito pouco, e isso tem uma margem de erro gigantesca, mas mostra que o Bolsonaro não vai herdar os votos do Doria, como o senso comum acredita que iria herdar”, continuou.

João Doria foi prefeito de São Paulo entre 2017 e 2018, deixando o cargo para disputar o governo paulista, para o qual foi eleito. Ele assumiu o governo de São Paulo em 2019 e cumpriu seu mandato até 31 de março deste ano, quando informou que deixaria o cargo para concorrer às eleições presidenciais. Em seu lugar assumiu Rodrigo Garcia (PSDB).

Foto: Carla Carniel/Reuters

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