Um Aposentado

O último dia de trabalho no banco, o gerente Sr. Martineli passou-o com o contador Melo, seu substituto, a quem fez minucioso relato da posição dos negócios da agência. À tarde, após a conferência do numerário, entregou-lhe as chaves da casa-forte e da escrivaninha. Em seguida, separou os seus poucos pertences e meteu-os sem pressa em uma pasta de couro.
– Bem, Melo, encerro agora o meu último expediente de trabalho. Apenas lamento não ter sido promovido à última letra da carreira. Forçaram-me a aposentaria e faltavam poucos meses. Mas não faz mal. Continuo a gostar do banco como de um pai generoso.
Calou-se um instante e continuou:
– Lembro-me bem do meu primeiro dia de banco. Eu era jovem. Toda a turma rodeou-me, desejosa de conhecer-me e dar-me as boas-vindas. À tarde, fomos a um restaurante, bebemos, cantamos até alta noite. Veja bem: trinta e seis anos depois, deixo o banco e me sinto como o inquilino indesejável que o senhorio quer despejar a qualquer custo.
– Mas, chefe, como vou arranjar-me sem o senhor? Eu pouco entendo da gerência para substituí-lo – procurou interrompê-lo Melo, vendo-o tão triste.
– Não se preocupe. Estou às suas ordens para ajudá-lo em qualquer circunstância, até a chegada do meu substituto.
– Muito obrigado, Sr. Martineli, não dispensarei a sua ajuda. Sabe, nós preparamos uma festinha de despedida para o senhor, hoje à noite…
– Festinha? Para mim? Sou grato a todos vocês, mas não posso aceitar. Festa é para quem está alegre, e eu estou triste.
Enquanto pôde, o Sr. Martineli tentou ocultar dos clientes a sua aposentadoria. Ora, ainda tinha muita disposição, podia trabalhar mais anos e produzir tanto quanto o melhor dos funcionários.
A clientela passava por ele na rua, detinha-se largos minutos para cumprimentá-lo, atenciosa e cordialmente:
– Como vamos, Sr. Martineli? Gozando as merecidas férias?
– Sim. Sim…
– Justo. Muito justo e merecido descanso. Quando retorna? Não podemos ficar muito tempo sem o senhor.
– Obrigado. Muito obrigado.