O Melhor Investimento

Desde às 7h da manhã, o homem estava na pracinha, caminhando impaciente de um lado para outro, observando as portas fechadas do banco.
– Será que o banco não vai abrir hoje? – perguntou a sua mulher ao lado.
– Decerto que vai, Ernesto. Hoje é quinta-feira. Ainda é muito cedo. Eu não disse que o banco abre mais tarde? Você teimou em vir de madrugada.
Na consulta, dias antes, o médico examinou-o com muita atenção, como se fosse ele paciente rico, de quem pudesse cobrar uma fortuna.
Fazia pouco tempo que o Ernesto morava com a família na cidade, onde não tinha amigos nem parentes. Adoecera há cerca de um ano. Desânimo, nenhuma vontade de sair de casa, nem disposição para trabalhar. Aposentou-se por invalidez. A mulher ajudava nas despesas da casa, lavando e passando trouxas de roupas da vizinhança.
– Vamos andando, Ernesto – disse a mulher. Acho que já estão abrindo as portas do banco.
– Se não chegou o dinheiro da aposentadoria, o que a gente vai fazer? Você ouviu bem? Não quero preocupar você, mas sinto que minha saúde está encrencada.
– Que besteira, Ernesto! Uma doencinha à-toa. Todo mundo fica doente. Eu não andei pertinho da cova?
– Cruz-credo! Já não chega eu doente em casa?
Dentro da agência, Ernesto caminhou lento e trêmulo para o balcão, receoso e disse.
– Por favor, chegou a minha aposentadoria? – perguntou o Sr. Ernesto, aflito. – Qual o seu nome?- Ernesto Martins. – Um momentinho, Sr. Ernesto, que vou ver. O funcionário examinou o arquivo, repetindo baixinho o nome. Não encontrou o recibo.
-Já recebeu alguma vez por esta agência?
– Não, senhor. Estou aposentado faz cinco meses.
– Então é por isso que ainda não chegou. O Sr. Ernesto ficou meio engasgado com a notícia.
– Será que vai demorar muito?
– Creio que não. O primeiro pagamento sempre atrasa um pouco.
– Quando, mais ou menos?
– No fim da semana. Não é certo. Pode até chegar antes. Tão conturbado, o pobre do homem mal conseguia proferir o seu habitual “muito obrigado”. Olhou para a mulher, ela tinha lágrimas nos olhos. Voltou humilde a dirigir-se ao atencioso funcionário:
– Sabe, Sr. Resende, é que preciso tanto desse dinheiro para comprar os remédios que o doutor receitou.
Enfiou a mão no bolso e retirou uma folha dobrada. – Está aqui a receita. O médico disse que não posso ficar sem os remédios. Me aposentaram por invalidez. Eu preciso trabalhar, tenho família, mas o corpo não ajuda. – Quanto o senhor espera receber da aposentadoria?
– Me disseram que dá uns trezentos cruzeiros por mês.
– Será que o Banco não podia adiantar um pouquinho do dinheiro para comprar os remédios? – aventurou ele. – Vamos ver. De quanto o senhor precisa no momento?
O Sr. Ernesto pensou, fez as contas, consultou a mulher e disse:
– Se não for pedir muito, cem cruzeiros. Já fui na farmácia saber o preço do remédio. Eu pago tudo direitinho. Aqui está o meu papel da aposentadoria. Não estou mentindo. O Banco pode ficar com ele, como garantia.
– O senhor acha que cem cruzeiros ajudam?
– Santo Deus! Ajudam muito. Compro os remédios e ainda sobra para a comida das crianças. Faz mais de mês que não vejo um tostão em casa.
O funcionário Resende dirigiu-se à caixa e voltou pouco depois.
– O banco vai adiantar trezentos cruzeiros. Assim sobra mais um pouco.
A fisionomia do Sr. Ernesto abriu-se num grande sorriso.
– O moço fala sério? Não precisa tanto assim. Quando posso receber o dinheiro? – Agorinha mesmo.
O Resende retirou as cédulas do bolso e entregou-as ao aposentado.
– Leve quinhentos cruzeiros. Remédio é caro. E comida também.
– É muito dinheiro, moço! – Deus lhe pague, Sr. Resende. Cadê a letra para mim assinar?- Confio no senhor. Não precisa assinar nada. – Vai cobrar muito juro?- Não se preocupe. Esqueça os juros. O Sr. Ernesto apertou o dinheiro entre os dedos, meteu a mão no bolso e saiu agradecendo e satisfeito. À porta da farmácia, após comprar os remédios, o Sr. Ernesto estacou. – O que foi? Esqueceu alguma coisa?- Mulher, se eu morrer, você paga minha dívida e deixa limpo meu nome? – Que bobagem! Pare de falar besteiras. Você vai tomar os remédios e sarar logo. Os quinhentos cruzeiros serviram para os remédios, a comida das crianças e o sepultamento do Sr. Ernesto, ocorrido semanas depois.
O Resende, em conversa com um colega, muito pesaroso lamentou que o homem o tivesse procurado tarde demais. – Qual o quê, Resende! Você deve é chorar o dinheiro jogado fora – disse com ironia o colega.
-Você está muito enganado. A dívida do falecido está quitada. Não vou cobrar um centavo da viúva. Como bom aplicador, eu não queria perder a oportunidade de fazer o investimento que me vai garantir o capital com elevados juros por muitos, e muitos anos.

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