O grande amigo

Saí do cinema. Dez horas da noite. Esperei um pouco na esquina, na esperança de encontrar algum conhecido para um bate-papo. Como não apareceu ninguém, rumei para casa. A caminho, vi o Rodrigues parado à porta do bar do Caetano. Ele veio ao meu encontro e convidou-me para tomar um café. Aceitei.
– Sabe quem está na cidade? – perguntou-me.
– Não posso imaginar. Quem é?
– Seu amigo Evaldo. Aliás, hoje Dr. Evaldo. Ele concluiu o curso de Direito e voltou para ocupar a contadoria do banco. Soube agora há pouco.
– Puxa! Que boa notícia você me deu. Meu grande amigo Evaldo, hoje doutor e contador da agência do banco. Que satisfação.
– Se não me engano, nós também participamos com ele do mesmo concurso para ingresso no banco.
– É verdade. Mas não fomos aprovados.
Ouvi, também, que ao desembarque na estação da Mogiana o Sr. Rui Almeida e a filha Marta o esperavam e seguiram diretamente para a residência deles. Disse-me, também, que correu o boato de que o Evaldo tencionava pedir a Marta em casamento.
Sentia-me insone, aquela noite a cada instante, a figura do Evaldo cruzava meus pensamentos.

II
No dia seguinte, domingo, apressei-me a procurar o amigo. Não fosse por ele, jamais me atreveria a bater à porta do Sr. Rui, homem orgulhoso e carrancudo.
O Evaldo foi criado em casa humilde, como quase todas de nossa rua. Frequentamos a mesma escola primária da D. Lúcia. Um tio dele, casado e sem filhos, percebendo inteligência e boa vontade no sobrinho, levou-o para educá-lo em sua cidade. Nas férias escolares, o Evaldo visitava os pais e corria a procurar-me.
– Sabe, Juvenal, eu não quero voltar para o ginásio – disse-me ele. Já não suporto a falta dos amigos, especialmente de você, e da vida livre e divertida que eu tinha antes.
– Não faça isso, Evaldo. Pense no futuro. Quem me dera ter também uma oportunidade dessas.
Apenas um ano de colégio bastou para modificá-lo. Tornara-se educado, vestia-se bem. Orgulhoso do progresso do amigo – por que não confessar certa inveja – em conversa, eu acrescentava sorrindo:
– Não vá esquecer os amigos, depois de formado, hem?
– Qual o quê! Você é meu amigo do peito. Amigos para sempre.

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