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Diretora de ‘Nomadland’ é alvo de críticas na China

O sucesso da cineasta Chloé Zhao, a primeira mulher asiática e a segunda a receber um Globo de Ouro de melhor direção por seu filme ‘Nomadland’, não foi recebido com aplausos em seu país de origem.

O sucesso da cineasta nascida em Pequim (aumentado com a vitória no Critics’ Choice, no domingo (7) e agora uma importante candidata ao Oscar, foi ofuscado por uma reação nacionalista no tocante à sua cidadania e identidade. Os censores removeram postagens sobre o longa que apareceram nas redes sociais, levantando dúvidas quanto a se o filme será visto na China.

Na semana passada, usuários de internet chineses questionaram se Zhao, que estudou no Reino Unido e nos Estados Unidos, ainda é uma cidadã chinesa e se deve ser reconhecida como chinesa diante dos comentários críticos que fez em 2013 sobre seu país. Mesmo que alguns tenham comemorado sua vitória, outros desenterraram duas entrevistas concedidas por ela em que disse coisas consideradas “um insulto à China”. Agora, a publicidade do filme foi removida da mídia social e pelo menos duas hashtags relacionadas a ele foram desativadas. A busca pelos hashtags #Nomadlandtemumadatadelançamento e #Nenhumaterraparaconfiar (título do filme na China) na plataforma Weibo, resultou na seguinte mensagem: “De acordo com leis, regulamentos e políticas relevantes, a página não foi encontrada”.

Uma postagem no Weibo da National Arthouse Alliance of Cinemas, financiada pelo governo chinês, que havia divulgado um pôster para o longa, retirou o cartaz. No popular aplicativo Douban, no qual muitos usuários discutem livros, filmes e programas de TV, o cartaz do longa e também a data de lançamento foram deletados na sexta-feira. Mas a página do longa-metragem no aplicativo, com comentários e o cartaz em inglês, continua visível.

No centro da controvérsia, estão dois trechos de entrevistas concedidas anteriormente por Chloé. Os usuários online fizeram circular imagens de uma entrevista que ela deu para a revista Filmmaker, em que afirmou lembrar que, “quando era adolescente na China, vivia em um lugar onde há mentiras por toda parte”. A entrevista não mais exibe essa citação, mas versões arquivadas da página na Web mostravam a original.

A segunda citação foi de uma entrevista que ela deu para o website australiano news.com.au em dezembro do ano passado, quando teria afirmado que “os Estados Unidos hoje são o seu país”.

Embora o site de notícias tenha atualizado a matéria em 3 de março, afirmando que a frase correta era (Os Estados Unidos) “não” são o meu país, foi a versão incorreta da história que circulou amplamente na internet chinesa. Há dúvidas se o filme será lançado na China. Sua data de estreia estava marcada para o dia 23 de abril, de acordo com a mídia chinesa.

O debate online está dividido em dois campos. Os nacionalistas dizem que Chloé Zhao traiu seu país, e a chamam de ‘duas caras’, afirmando que ela deixou a China respaldada pela riqueza do pai, ex-CEO de uma estatal. Outros afirmam que a discussão deve ser centralizada no longa, que relata a história de uma mulher que vive em uma van depois de a empresa, que era o motor econômico de sua cidade, ter sido fechada.

Um conhecido crítico de cinema na China, Chu Mufeng, elogiou Chloé e o filme no Weibo, onde há três milhões de seguidores, observando que “não só ela é a primeira mulher chinesa a conquistar o prêmio de melhor diretora, mas também a primeira asiática”.

Mas um seguidor, ao comentar sua postagem, disse se tratar de “uma diretora de cinema americana”. “Obrigado, não a elogie demais”, afirmou. E o crítico respondeu: “se um chefe de etnia chinesa é excelente na cozinha, você perguntaria de onde ele veio? Trate um longa bom como se fosse um banquete, tudo o que você precisa é desfrutar”. (Tradução de Terezinha Martino)

Texto: Huizhong Wu/Associated Press

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