As Melancias do Português

Descíamos a escadaria da igreja do Rosário, logo depois da missa, eu e o inseparável amigo Bertinho.
Será que o português Martins está hoje na chácara? – perguntou-me ele. Que tal fazermos uma visitinha ao seu pomar? Por que não! Boa ideia. Estou mesmo sem nenhum programa, e faz tempo que tenho vontade de ir lá chupar algumas frutas diferentes. Me contaram que ele não tem nenhum empregado para vigiar o pomar, e aos domingos um vizinho costuma trazê-lo de charrete à cidade. E hoje é domingo…
Está pra nós! Mesmo assim, precisamos ter cuidado. O homem é munheca e bravo. Um dia desses, da janela de sua casa, sapecou um tiro de sal nas pernas do Penacho, só porque o Penacho estava encostado na cerca e espiando o pomar. Bem velho e solteiro, o português Sr. Martins morava sozinho em sua chácara, banhada nos fundos pelo Rio Japi, cerca de dois quilômetros da cidade. Vivia sempre às voltas com os moleques que invadiam o seu pomar. Não tinha amigos. Por mal dos pecados, anos atrás perdera uma perna em acidente de caçada, o que lhe azedou ainda mais a solitária vida. Desde então, sempre revoltado e xingando a Deus e a todo o mundo, só podia locomover-se lento e apoiado nas muletas.
No quintal de nossa casa, havia laranjeiras, mexeriqueiras e mangueiras, ainda produtivas, plantadas por meu pai. Nunca pude entender por que suas frutas não tinham a mesma doçura das que eu vivia furtando nos pomares da vizinhança, correndo o risco de ser apanhado e punido. Após quase uma hora de caminhada, conversando, a pé e sem pressa, chegamos à chácara. Perdemos bom tempo a examinar a casa fechada e o pomar. Ninguém, nem ao menos um cachorro. Tudo quieto.

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