Ao amigo que morreu

Amigo Roberto Avelar. Faz anos que você partiu. Não sei se estas notícias possam interessá-lo. Pouco me custa este rascunho que, tão logo terminado, vou atirá-lo à cesta de papéis. Escrever é um modo de eu matar o tempo que, agora aposentado, tenho de sobra para afugentar a solidão que, teimosa procura conviver comigo à medida que passam os anos e vamos perdendo os entes queridos. Engraçado alguém rodeado de parentes e amigos sentir solidão! É um estado de alma, quase inexplicável, e eu não tenho competência para desvendá-lo.
O mundo não mudou muito. Se mudou, foi para pior. É quase o mesmo que você deixou em um acidente, à noite, em deserta rodovia, sem dizer adeus à família e aos amigos. A maldade e a ganância dos homens irrompem aos jorros, crescem e agigantam-se. Os poderosos aprimoram-se nas crueldades e buscam qualquer meio de enricar mais e mais à custa do sofrimento e desgraça alheios. Amor ao próximo, caridade, belas palavras que se escrevem e ouvem há séculos, sem nunca se cuidar de seu real significado. Os raros bons samaritanos vivem medrosos de ser descobertos. Praticam seus atos de benevolência às escondidas, como se cometessem o mais hediondo dos crimes.

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