A fuga da rotina

Para fugir da rotina, um dia resolvi visitar as agências onde trabalhei, e não eram poucas. Comecei pela última. Embarquei logo depois do almoço e cheguei ao destino às cinco da tarde. Não sei bem quanto andei de ônibus. Creio que mais de trezentos quilômetros.
Estava cansado da viagem e sem disposição para andar os poucos quarteirões da rodoviária ao hotel. Tomei um táxi. Por favor, hotel Central.- É pra já! Parece que estou conhecendo o cavalheiro!
– Pode ser. Morei aqui muitos anos.- Não disse? Dificilmente esqueço uma fisionomia simpática.
– Obrigado pela fisionomia simpática. Deixei a mala no quarto, banhei o rosto em água fria para reanimar-me um pouco e toquei apressado para a praça. As portas do banco já estavam fechadas. Pensei em chamar o vigilante e dizer-lhe que eu era funcionário aposentado, trabalhei muitos anos na agência e gostaria de entrar e abraçar os velhos amigos, mas contive-me. – Amanhã, vou com mais tempo ao banco.
O corpo não encontrava posição cômoda no duro banco de jardim, em que fui sentar-me. As pessoas passavam por mim e não me viam, como se ali não houvesse ninguém. Ainda era cedo para jantar. Por que recolher-me? Afinal, não vim de tão longe para trancar-me num quarto de hotel. Pelo menos, fora, eu via gente que falava, e ria, e vivia, embora todos estranhos para mim, e eu para eles. O relógio da igreja deu onze horas.
No dia seguinte, fui ao banco. Era uma segunda-feira. Dia aziago para mim. Não podia entender por que ainda sentia apreensões nesse dia da semana, como se algo desagradável estivesse para acontecer-me. Talvez fosse por causa do sábado e do domingo que, na ativa, eu aproveitava minuto a minuto. Mas, agora, que estou aposentado, por que ainda sinto presságios nas segundas-feiras? Não tenho de preocupar-me com serviços acumulados sob minha responsabilidade, e muito menos com alguns inspetores do banco, cuja única e prazerosa função não era a de orientar os inspecionados, mas a de humilhá-los.
Fui um dos primeiros que entrou no banco, mal se abriu a porta para o público. Entrei emocionado. Os cabelos já poucos e esbranquiçados, a pele enrugada, era eu bem diferente daquele jovem que ingressara no Banco, 35 anos atrás, envaidecido com a aprovação em difícil concurso. Porém, não ostentava no peito nenhum troféu após lutas e imaginadas vitórias.

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