Thamires Norberto é estudante de odontologia e estava em um show, quando resolveu guardar o celular com medo de que fosse furtada. O que ela não esperava é que já tinha sido vítima dos criminosos e que suas contas bancárias haviam sido esvaziadas.
A estudante tentou agir o mais rápido possível e foi para a casa do namorado, que a ajudou a cancelar as contas e bloquear os cartões.
“Eu não estava conseguindo pensar, porque para mim só com o prejuízo do celular, eu já estava surtando, desesperada. Eu teria que arcar com um dinheiro que eu não tinha para comprar o celular”, disse a estudante.
Thamires contou que não conseguia ter acesso a nada, porque para tudo precisava de seu chip. Ela também havia colocado autenticação em dois fatores em todos os seus aplicativos, como forma de precaução, além de senhas, o que indicaria que seria mais difícil realizar qualquer tipo de transação por meio de seu aparelho.
“Na minha cabeça, eu tinha resolvido a ideia do celular. Eu ia na Vivo resolver a questão do meu chip, retornar o acesso às contas”, falou.
A surpresa veio ao retornar da operadora, quando a futura dentista abriu sua conta da Nubank e viu que seu saldo estava praticamente zerado.
“Cliquei em cima do saldo da conta corrente para poder ver o dinheiro que estava guardado na poupança e tinha sumido tudo o que eu tinha lá. Foi ali que meu mundo caiu. Eu vi que toda minha reserva tinha evaporado e eu não consegui mais ver nada”, disse.
O tempo foi o principal inimigo da jovem. Embora tivesse bloqueado a conta e seus cartões às 6h36, minutos antes, às 6h29, a transferência de valor mais alto já havia sido realizada.
Segundo Arthur Igreja, especialista em tecnologia e professor da FGV-RJ, os processos de desbloqueio de celular são conhecidamente complexos, se não impossíveis, o que sugere que a pessoa que furtou Thamires, possivelmente, havia observado a estudante, em um dado momento, desbloqueando seu celular.
“Muitas vezes, a pessoa acaba usando data de nascimento ou senhas como ‘um, dois, três, quatro’, então acho que tem muito mais a ver com isso”, afirmou.
José Milagre, advogado e especialista em crimes cibernéticos, reforça que a estudante agiu corretamente, mas destaca que o tempo é fundamental.
“Hoje os bancos alegam que as pessoas não agiram rapidamente, e as pessoas, que os bancos demoraram em bloquear”, disse o especialista.
Para os usuários dos aplicativos bancários, não manter um saldo muito alto e estabelecer limites de horário para realizar transações é essencial.
Já no caso dos bancos e aplicativos, o professor afirma que seria muito importante que a operação de um valor um pouco maior fosse concretizada só 30 ou 60 minutos depois, e que existissem canais em que as pessoas conseguissem informar com velocidade que não estão mais em posse de seus smartphones.
Milagre explica que os bancos estão disponibilizando empréstimos sem nenhuma validação prévia nem checagem de identidade do cliente.
“Ela deve acionar o Nubank e o Mercado Pago pelo que ocorreu. Se foi permitido um saque após a troca de senha, algo falhou. O banco é quem terá que provar que seus controles funcionam. É possível que, se ela não pedir o ressarcimento, não receba o valor de volta, muito menos que o empréstimo seja cancelado.”
Os especialistas ainda dizem que é importante registrar um boletim de ocorrência e, se necessário, acionar a Justiça, já que, em muitos casos, o Judiciário tem condenado as instituições e apps financeiros por falharem com controles básicos de segurança.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil