As aulas do padre Mateus

A ideia de inscrever-se no concurso do Banco insinuou-se na cabeça de Dudu e, teimosa, não o deixou em paz. Não dispunha ele de tempo para dedicar-se às matérias exigidas, das quais tinha ligeiras notícias ouvidas dos colegas da escola de comércio, nem de dinheiro para contratar um professor. Sozinho, começou a preparar-se muito desorientado. A escola de comércio dava apenas noções rudimentares delas. Fechava os livros, desalentado. Dias depois, começava de novo, com a decisão de familiarizar-se com uma só matéria de cada vez, porém, com qual delas? Em conversa com o Sr. Araújo, da Livraria, Dudu referiu-lhe as dificuldades que estava encontrando para aprender especialmente o Português. – Procure o Pe. Mateus. Ele ensina Português e Latim no ginásio e gosta de ajudar os alunos com dificuldades nessas matérias – informou o Sr. Araújo. – Ele cobra caro pelas aulas?
– Não, acho que não. É um padre simples, bom, e muito competente.
– Onde posso encontrá-lo? – Lá mesmo, no ginásio. É só perguntar por ele. – Muito obrigado pela informação, Sr. Araújo. Vou lá. O ginásio era bem afastado do centro da cidade e distante da casa de Dudu. Num domingo, de manhã, Dudu foi procurá-lo. Não sabia como aproximar-se do padre, e muito menos como falar-lhe. Embaraçado, a língua meio presa e gaguejando, Dudu explicou-lhe a custo suas pretensões, onde trabalhava e estudava, cuidando ser breve e não tomar-lhe tempo. O padre ouviu-o paciente. Qual o seu nome? – Dudu é meu apelido. Meu nome é Eduardo Andrade. – Pois bem, Dudu. Você disse que trabalha de dia e estuda à noite. Também não dispõe de tempo. Assim, fica difícil estabelecer um horário conveniente para ambas as partes. Por isso, sinto aconselhá-lo a procurar outro professor. – Mas, padre Mateus, não encontro quem me queira dar aulas de Português, a não ser que eu pague caro, e isso não estou em condições de fazer. Se o senhor puder ajudar-me com algumas aulas, apenas as noções rudimentares.
– E como sabe você que vou cobrar menos que os outros professores?
Dudu não encontrou resposta e calou-se. O padre pensou, pensou. Sentiu que Dudu era sincero, queria aprender e precisava de auxílio. Bem, Dudu, só nos resta tentar aos domingos, depois da missa das sete. Dudu exultou. Era uma esperança. – Muito grato, Pe. Mateus. Quer dizer que me pode dar as aulas?
– Creio que sim. Algumas explicações úteis para iniciantes na matéria.
– Mas, padre, quanto o senhor vai cobrar pelas aulas? Pergunta das mais oportunas, Dudu. Ninguém dá aulas de graça. O professor também precisa viver. Você é católico? – Sim, senhor. Minha família toda é católica.
O padre continuou: – Vou calcular direitinho o preço. Como disse que é católico, aos domingos você deve chegar aqui de manhã, pouco antes das 7, e assistir à missa que celebro às oito e pouco, tomamos café na sacristia. Até a hora do almoço, fico à sua disposição. Está bom, assim? – Sim, senhor. Muito bom, mesmo. Mas o senhor ainda não deu o preço das aulas. – Ah! Um preço justo, bom para mim, bom para você. O preço é a assistência à missa durante pelo menos seis meses. Mais barato não posso fazer, senão vou tomar prejuízo, e vigário não pode ter prejuízos em transações espirituais. Achou caro, Dudu? – O senhor está falando sério, padre? – Muito sério. Esse é o preço que costumo cobrar de todos os que me procuram para aulas em horários especiais. Achou caro? tornou a perguntar o padre. Não posso fazer nenhum abatimento. Qual nada, padre. Muito barato, mesmo. Posso pagar as aulas sem nenhuma dificuldade. Tenho ido à missa desde criança. A princípio, obrigado por minha mãe. Depois, sozinho. E os Evangelhos?

Conteúdo somente para assinantes. Por favor faça o login

Notícias Semelhantes