Tucano enfrentava câncer no sistema digestivo e estava internado desde 2 de maio no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, quando se licenciou do cargo. Ele deixa um filho de 15 anos.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), morreu às 8h20 deste domingo (16) aos 41 anos, em São Paulo, informou a prefeitura, em nota. Desde 2019, ele lutava contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado. Deixa o filho Tomás, de 15 anos.
Covas estava internado no Hospital Sírio-Libanês, no Centro da capital paulista, desde 2 de maio, quando se licenciou da prefeitura. Na sexta-feira (14), ele teve uma piora no quadro de saúde e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível.
Nas últimas horas de vida, o prefeito recebeu sedativos e analgésicos para não sentir dores.
Familiares e amigos de Covas permaneceram no hospital desde que os médicos informaram que seu quadro de saúde era irreversível.
Na noite de sexta (14), um padre chegou a fazer a unção dos enfermos, um sacramento católico. Durante a noite de sábado (15), representantes de diversas religiões participaram do ato ecumênico na porta do hospital, que durou 30 minutos e terminou com a oração Pai Nosso.
O corpo será levado para o Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura, onde, às 13h, haverá no hall monumental do 3º andar uma cerimônia breve para familiares e amigos próximos. Depois, seguirá em carro aberto em um cortejo até a Praça Oswaldo Cruz. O enterro será em Santos, em cerimônia restrita à família.
Covas teve o câncer diagnosticado em outubro de 2019, após ser internado com uma infeção na pele chamada erisipela. O tumor regrediu, mas, neste ano, novos nódulos foram encontrados no fígado, na coluna e na bacia.
O tucano é o primeiro prefeito da cidade de São Paulo a morrer durante o mandato. Ricardo Nunes (MDB), o vice que hoje é prefeito em exercício, irá assumir definitivamente o cargo.
Neto favorito de Mário Covas
Nascido em Santos, no litoral paulista, em 7 abril de 1980, Covas era filho de Pedro Lopes, engenheiro da Autoridade Portuária de Santos, e Renata Covas, a única filha mulher de Mário Covas e Lila.
Era o neto favorito de Mário Covas, que foi prefeito da capital na década de 1980 e governador do estado entre 1995 e 2001.
Aos 9 anos, passou a integrar o “Clube dos Tucaninhos”, cuja carteirinha de filiação era guardada por ele como recordação até depois de adulto.
Aos 14 anos, Bruno Covas deixou o litoral e foi morar na cidade de São Paulo com o avô, no Palácio dos Bandeirantes, sede oficial do governo paulista. De acordo com funcionários, Bruno era “bem mais tranquilo para lidar do que o avô”.
Cursou o ensino médio no Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais da capital, onde conheceu um de seus grandes amigos, Luiz Álvaro Salles Aguiar de Menezes, que se tornou seu secretário municipal de Relações Internacionais décadas mais tarde.
Menezes disse que na escola os colegas se surpreendiam ao descobrir que Bruno era neto do governador. “Acho que eles esperavam uma figura engomadinha, e não aquele cabeludo com camiseta de rock n’roll sem manga que estudava com a gente”, contou, em entrevista ao SP1.
Naquela época, o jovem Bruno Covas não se interessou em participar do grêmio estudantil do colégio.
Casamento, separação e 1ª vitória eleitoral
Covas graduou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e iniciou a carreira política em 2004, quando se candidatou a vice-prefeito de Santos na chapa do correligionário Raul Christiano. Naquele ano, se casou com a economista Karen Ichiba, de quem se divorciou depois de 10 anos. Depois disso, manteve-se solteiro.
O casal teve Tomás, hoje com 15 anos, que acompanhou o pai em eventos públicos diversas vezes, inclusive vestindo a camisa dos “Tucanáticos”, o grupo de jovens do PSDB. O rapaz é torcedor fanático do Santos, o mesmo time do pai, e morava com Bruno em um apartamento na Barra Funda, Zona Oeste da capital, em esquema de guarda compartilhada.
Bruno Covas sentiu o gosto da vitória nas urnas pela primeira vez aos 26 anos, como deputado estadual. Foi reeleito aos 30, com o maior número de votos. Depois, assumiu o cargo de secretário Estadual do Meio Ambiente na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), e, em 2014, venceu a eleição para deputado federal. No Congresso Nacional, votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
A lealdade ao PSDB não o impediu de se relacionar com outros partidos. O tucano chegou a participar da organização de jantares para arrecadação de dinheiro para Luiza Erundina (PSOL), condenada pela Justiça a pagar uma multa por causa do anúncio de uma greve geral feito por ela 20 anos antes, quando era prefeita de São Paulo. Sem dinheiro, ela corria o risco de perder o único apartamento que tem.
Eleição para a prefeitura e novo estilo de vida
Covas não completou o mandato como deputado federal. Voltou a São Paulo e se candidatou a vice-prefeito na chapa de João Doria (PSDB), em 2016. A dupla venceu no primeiro turno.
Em 2017, Covas mudou o visual e o estilo de vida: assumiu a careca, passou a seguir uma dieta radical que o levou a perder mais de 16 quilos e iniciou a prática Mahamudra, uma linha esportiva que alia autoconhecimento e exercícios físicos. Também ficou conhecido como “baladeiro”, devido à presença frequente em festas e casas noturnas.
O tucano assumiu a Prefeitura de São Paulo na sequência, em abril de 2018, quando Doria deixou o cargo para se candidatar a governador do estado.
A primeira grande missão à frente da Prefeitura ocorreu no feriado de 15 de novembro de 2018, após um viaduto de 2 metros ceder sobre a Marginal Pinheiros.
Infecção na pele e diagnóstico de câncer
Em 19 de outubro de 2019, o prefeito foi diagnosticado com erisipela, uma infecção na pele. Ele foi medicado e liberado, mas, uma semana depois, foi internado. A infecção havia evoluído para trombose venosa profunda (coágulos) na perna direita.
Os coágulos subiram para o pulmão, causando o que é chamado de embolia.
Foi durante os exames para localizar os coágulos que médicos detectaram o câncer. O nódulo estava na cárdia, região entre o esôfago e o estômago, com metástase no fígado e nos linfonodos.
“Aquilo foi assim uma bomba, né? Um tapa na cara. Notícia de alguns segundos. Eu fiquei esperando ele [o médico] dar risada, pensei ‘talvez seja uma piada’, mas a risada não veio. Você vai caindo em si e pensando, ‘bom, e agora? O que eu faço? Dá pra tratar? Não dá pra tratar?’”, contou. “Tem várias horas que você se pergunta: ‘Por que eu? Será que eu ainda vou passar muitos Natais comemorando com meu filho?’”, questionou Covas, em uma entrevista
Tratamento e eleição
Em 29 de outubro de 2019, Bruno Covas iniciou o tratamento contra o câncer, que previu inicialmente 8 sessões de quimioterapia, sem deixar o cargo de prefeito e despachando por meio de assinaturas digitais.
Em entrevista ao “Fantástico”, Covas disse que estava confiante e boletins médicos informaram que ele reagiu bem às primeiras sessões, sem efeitos colaterais relevantes.
Em dezembro de 2019, a equipe médica disse que o tumor regredira de modo expressivo. Dois dias depois, contudo, ele foi para a UTI após um sangramento no fígado. As sessões continuaram e, apesar do episódio, a equipe continuava informando que ele apresentava “ótimo quadro geral”.
Em 2 de janeiro de 2020, ainda em tratamento, o prefeito anunciou em entrevista à CBN que seria candidato à reeleição à Prefeitura de São Paulo. Adiante, suas principais promessas de campanha foram zerar a fila de creches, criar unidades de saúde (UPAs e UBSs), um programa de moradias populares na cidade, um sistema de transporte público por barcos e avançar no plano de privatizações.